Ouço Mas Não Entendo
É relativamente comum, na prática clínica, recebermos para revisão pacientes usuários de Aparelhos Auditivos com a seguinte queixa: “ouço mas não entendo algumas coisas”.
Ou um familiar do paciente referir: “pensei que o pai não estava de aparelho, ele não me entendia”.
A dificuldade em compreender o que é dito em uma conversa pode ser decorrente de uma necessidade de ajuste nos Aparelhos Auditivos ou de um transtorno do processamento auditivo central, em razão do qual o indivíduo escuta mas não compreende, não interpreta a mensagem ouvida.
Ou, ainda, as duas coisas juntas. Muitas vezes, principalmente no primeiro ano de uso, são necessários ajustes nos Aparelhos Auditivos.
O mais comum é que haja algum comprometimento de processamento auditivo em pacientes idosos, principalmente aqueles que ficaram muito tempo em privação auditiva, convivendo com a perda auditiva não tratada.
O Processamento Auditivo Central é a capacidade que o cérebro tem de usar a informação que chega pelos ouvidos, ou seja, “é o que o cérebro faz com o que o ouvido ouve”.
Ele representa um conjunto de habilidades desenvolvidas desde o nascimento, como, por exemplo: localizar o som, focar a atenção em um som e ignorar outros, discriminar um som do outro, memorizar sequência de sons, etc.
No idoso, por um processo natural do envelhecimento, todas as funções passam a trabalhar de forma mais lenta. É comum idosos com distúrbios de processamento e deficiência auditiva apresentarem dificuldades de memória. Isso acontece porque a área do cérebro responsável pela memória está ligada à área responsável pelo processamento auditivo.
Se o seu cérebro para de receber estimulação sonora, passa a considerar que os sons não são importantes e deixa de “funcionar” nessa área. Outras áreas do cérebro ficam sobrecarregadas para permitir a comunicação e, assim, o cérebro se desorganiza.
Por isso, qualquer área afetada pela degeneração natural do envelhecimento precisa ser estimulada a trabalhar novamente. O estímulo preserva essa área e todas as outras funções cognitivas.
Por tudo isso, vemos os benefícios, do ponto de vista orgânico, em usar Aparelhos Auditivos quando há deficiência auditiva: estagnar o processo de degeneração através de estimulação. Do ponto de vista social e emocional, percebemos facilmente que um idoso participativo e comunicativo é mais feliz e saudável.